segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Somente Nos Relacionamos Conosco

Da amiga Cláudia Pierre
29/06/2015 09:21 Claudia Pierre
Partimos da premissa que somos um só ser, que Somos Um. Nada existe além de nós. Então, o que acontece é que projetamos nosso ser e o vemos como se estivesse fora. O que consideramos mundo externo é uma extensão de nós, de nossa psique. É dito que quando rejeitamos aspectos deste ser, projetamos; quando amamos, estendemos. Mas não existe o ‘fora’. Ou projetamos, ou estendemos. O que percebemos ‘fora’ é um reflexo de quem somos.
Acreditamos que somos independentes do mundo que vivemos. Acreditamos que existe uma realidade externa, que não tem a ver conosco. Pensamos que estamos à mercê deste mundo. Isto acontece principalmente, ao nos depararmos com pessoas e circunstância que rejeitamos. Mas, considerando as leis da percepção, só podemos nos relacionar conosco.
Os estudos indicam que não saímos de nossa mente para ver ‘o fora’. Vemos com nossa mente. Percebemos com nossa estrutura perceptiva. Isto envolve nossa configuração corporal e psíquica. Mesmo se tratando do corpo, só conseguimos perceber o que nossa organização e estrutura nos permite perceber. O que percebemos como real é dependente de como somos – a realidade é sujeito-dependente. Na Biologia do Conhecimento, é dito que não vemos o mundo, mas configuramos o mundo que vemos. No âmbito da abordagem quântica, é-nos dito que o observado tem a ver com o observador, não é separado dele. Um não existe sem o outro.
Sendo assim, somente nos relacionamos conosco. As pessoas com quem convivemos são nossos espelhos; os eventos que experimentamos são expressões de nosso estado de consciência ou inconsciência. Cada instante é uma revelação – através de coisas, eventos e pessoas – do que somos. Pessoas e eventos são oportunidades de ‘olhar pra dentro’, são magníficas possibilidades de vermos nossas crenças e nossas sombras. E também nossa luz.
Pensamos que nos relacionamos com pessoas separadas e independentes de nós. Mas elas não são independentes, elas refletem nossas crenças. Através dos relacionamentos nos deparamos com nossos desejos e rejeições. Problemas nos relacionamentos consistem em algo que devemos olhar como algo que nos revela, que manifesta nosso ser. Os relacionamentos são um meio através do qual podemos vir a nos conhecer. Mas, comumente abortamos grandes oportunidades de autoconhecimento, na insistência de ver a causa do problema como externa a nós. Isto se dá por meio da imputação de culpa. O outro é culpado, não nós. Culpar os outros é uma fuga para não enxergar as próprias crenças e emoções.
A Percepção de pessoas e objetos não é independente de nós, de como somos estruturados, de como pensamos. O que acontece, ao perceber o mundo, é uma interpretação do que vemos. E esta interpretação traz a marca de nossos desejos, rejeições e condicionamentos. Vemos o que desejamos ver. E, não raro não desejamos ver a inocência do outro. Isto acontece porque é através do outro que achamos que nos livramos da culpa. O outro é um recurso que usamos para nos isentar do sentimento de culpa. O raciocínio é de que ‘se a culpa está fora, eu sou inocente’; ‘ele é assim, eu não’!.
Se quisermos nos livrar do sofrimento em nossas relações, temos que nos dar conta de nossas interpretações e principalmente dos desejos que as fundamentam. É para isto que devemos voltar nossa atenção, não para as pessoas ou circunstâncias. Imprescindível ter ciência de que a interpretação é nossa. Assumir o modo como percebemos com algo nosso faz parte do processo de cura. Este faotr é indispensável para a liberação de nossa própria dor.
Ao nos depararmos com algo que nos incomoda, temos a propensão a apontar para o que nos incomoda, como algo independente de nós. Este é um processo de dissociação entre o mundo que projetamos e o projetor, que é nosso ser interior. Insistir que o erro ou o mal estão fora é se apegar ao vitimismo: ‘eu sou de bom coração, mas aquela pessoa…-veja o que fez!’ As pessoas e eventos apenas representam nossos estados de ser. Elas são ricas oportunidades de nos mostrar o que negamos. Se não assumirmos que somos responsáveis por nossas emoções, percepções e interpretações, não teremos a cura. A cura consiste em integrar o ‘fora’ com o ‘dentro’, consiste em sanar a percepção que separa.
A culpa é uma das pedras angulares dos relacionamentos problemáticos, ou seja, não curados. Ela é uma tentativa de se livrar do medo e da punição, atribuindo-a a outros. Vimos que, considerando o processo perceptivo, damo-nos conta de que o que é percebido não é independente de quem percebe. Tal como num projetor, é em nossa mente que se encontra o projetado. Se quisermos nos libertar da dor que a condenação promove, em vez de olharmos para o que é projetado, devemos olhar para a mente que projeta. Nem a projeção, nem a extensão deixam sua fonte. Se o ‘externo’ é uma projeção, somente nos relacionamos conosco, com nossos reflexos.
É por considerar que o exterior é apenas um reflexo do interior, que devemos voltar o foco para nosso próprio ser. E também por isto, não há o que perdoar fora. O único que devemos e podemos perdoar somos nós. Perdoar nossas distorções perceptivas e nossos desejos de imputar culpa. Perdoar as ilusões; perdoar o que não existe. Distorções perceptivas são ilusões. Perdoar significa dar-se conta que o que vemos é falso; é reconhecer o falso como falso.
Portanto, o meio para libertação da dor nos relacionamentos é perdoar as percepções que nos causam sofrimento. Não se trata de perdoar o outro, mas de desfazer a visão que nos causa dor. A fim de nos livrar do sofrimento, temos que nos disponibilizar para mudar nossa emoção e percepção. São elas a fonte da alegria e tristeza. Somos nós que configuramos nosso universo perceptivo. A mudança diz respeito a nós. Perdoar significa expiar o pecado, desfazer o erro. Perdoar é desfazer o erro que fere. Como se trata de nossa distorção perceptiva, temos que atuar nesta distorção, não em algo ‘fora’. A solução está em dar-se conta e modificar as próprias emoções e percepções que nos causam dor.
Considerando que Só Deus É, a culpa não é real. Somente o Amor é real. Então, perdoar, tampouco, é trazer a culpa para si e sofrer com ela. Trata-se de reconhecer que ela, vista ‘fora ou dentro’, é uma distorção a ser corrigida. A correção não é feita por nós, na condição de ego. Ter o conhecimento de que “Somos Um” e de que “Só Deus É”, é tarefa do Divino. Mas é necessário um pouco de boa vontade. É necessário desejar isto.
Texto revisado em 23 de julho de 2015

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