quinta-feira, 20 de agosto de 2015

O Que é Real?

Uma pessoa amiga me escreve, sobre o livro Um Curso em Milagres e me pergunta: o que é real?
O que escrevo aqui é um convite à reflexão, já que o tema é bastante complexo em vários aspectos.
Vou também sair um pouco do livro, para depois retornar nele.
Podemos dividir esse problema em duas partes: o Problema Humano e o Problema Filosófico-Religioso.
No Aspecto Humano, vamos pensar juntos na História da humanidade dos últimos dois milênios.
Jesus encarnou e veio dar sua mensagem como o Filho de Deus, o Cristo. Naquele momento da história da humanidade, os homens viviam em busca da sobrevivência, ainda tecnologicamente sem dominar a natureza. Buscavam disputar terras para nelas plantarem ou explorarem os recursos naturais existentes e criar seus rebanhos. Guerras de poder e territoriais eram comuns, o que não é muito diferente dos dias atuais.
Viviam em um ambiente hostil, cheio de pragas e doenças, e morriam muito cedo… em torno dos 40 e poucos anos em média. Nessa vida, as consciências não eram voltadas a questões do tipo “quem sou eu?”, “de onde vim?”, “para onde vou?”.
Pelo Século IV, com o evento da vitória de Constantino que unificou os Reinos (podem pesquisar sobre isso, se quiserem), surge a Igreja Católica tal qual a conhecemos. Daquele momento e até o Século XVIII, a Igreja Católica foi um monopólio religioso. Era um Estado-religioso, onde eram perseguidos todos os que cultuassem outras religiões.
A Igreja estabeleceu-se como poder e seus clérigos eram dotados do poder da vida e da morte, julgando o que era do céu ou do inferno.
Era a Idade Negra, Idade das Sombras, Idade Média (e os nomes não são por acaso), onde existiam 3 classes de homens: os nobres e os religiosos (minoria privilegiada com o direito ao conhecimento), e os camponeses, sem direito aos estudos e com a única finalidade de trabalhar, sustentar tanto a Igreja quanto o Estado... e sobreviver...
Foi a época da Caça às Bruxas, das Inquisições por todo o mundo, quando a Igreja perseguiu a todos que desafiassem seu poder monopolista da crença em Deus, como o Culto à Natureza, praticado pelos camponeses.
Não era dado ao homem comum o direito de pensar, discernir sobre seus caminhos e vida. O bem e o mal era o papel julgador dos clérigos, que se impunham pelo medo.
A Revolução Francesa e a Queda da Bastilha transgrediram com a ideia de que o poder dos Reis não advinha de Deus, mas do povo.
A partir daí e com a Revolução Industrial, o homem, acostumado a não poder pensar sobre si mesmo, sai da vida artesanal e começa a pensar em explorar os recursos naturais.
Começa a manipular o ferro e os metais, a trabalhar a energia, primeiro com o vapor, depois o gás, carvão, petróleo, produzir máquinas e ferramentas e assim por diante. E isso provoca uma mudança drástica no cenário tanto econômico quanto social, separando o poder do Estado e da Religião, empurrando ao estudo os que nunca tiveram direito de estudar. E, logicamente, despertando no homem o direito de pensar por si mesmo, não mais sobre a tutela do Estado ou da Igreja. E surgem novas linhas filosóficas, mais questionamentos e novas religiões.
Chegamos agora ao período da Primeira e Segunda Guerras Mundiais, onde o salto tecnológico, devido ao foco em dominação e poder, tem um tremendo avanço. Junto com o avanço tecnológico vem também, depois da Segunda Guerra, um enorme salto populacional no planeta.
Vem o consumismo, a exploração desenfreada dos recursos naturais, e o que era sustentável, passa a não ser mais. Aumenta a humanidade e a busca pelos confortos tecnológicos. A produção para satisfazer as necessidades cada vez maiores da população global aumenta e também a escassez dos recursos naturais. Mais tecnologia é necessária, a busca por recursos naturais fica mais cara, a energia cada vez mais necessária para produzir mais e mais bens, e torna-se mais difícil e cara.
E, novamente, temos um movimento de centralização de poder, agora do Poder Econômico.
O afã da busca desenfreada pelo domínio da energia, do desenvolvimento sustentável, faz com que o homem explore cientificamente a matéria até o seu último reduto: o átomo.
E ele descobre, surpreso, que a matéria não responde aos seus questionamentos.
Descobre a não-matéria: percebe que as partículas que compõe o átomo, quando separadas, deixam de existir enquanto matéria, mas continuam a existir como energia.
Descobre também: que essas partículas de não-matéria estão disponíveis por todo o Universo e não tem nenhum tipo de padrão de comportamento enquanto não forem observadas pelo homem, sendo um universo de infinitas possibilidades.
Descobre ainda mais: que os elétrons - partículas negativas do átomo - gravitam o núcleo do átomo (prótons e nêutrons), com a mesma proporção e regras que os planetas gravitam em torno dos Sóis. Explico essa parte… se aumentássemos o núcleo de um átomo para um diâmetro de 1 mm, os elétrons estariam gravitando esse núcleo entre 10 e 100 mts de distância dele, o que seria proporcional a distância entre o Sol e os Planetas.
Então, se o átomo é a última porção de matéria e é formado por um enorme espaço, como temos a percepção daquilo que chamamos de sólido?
Tem outro problema físico: os elétrons tem carga negativa e estão localizados no "exterior", circundando um núcleo do átomo. Então, como uma matéria poderia tocar outra, se ambas têm em seu “exterior” cargas negativas que se repelem, os elétrons?
O que é real?
Observamos atônitos a tudo isso e fomos impelidos a nos questionar a tudo o que "sabíamos”.
Fomos forçados a inaugurar novas ciências, como a física quântica, para observar o que nunca foi sonhado. Deixamos a matéria para estudar a não-matéria. E isso muda totalmente a dicotomia da relação ciência-religião. E hoje, ainda surpresos, começamos a descobrir que a matéria responde à mente.
Percebemos o mundo físico, basicamente pelos nossos sentidos: tato, audição, paladar, visão e olfato. Mas sabemos que existem limitações naquilo que percebemos.
Por exemplo, a visão consegue enxergar uma gama limitada de vibrações de cores que vão do vermelho (abaixo do vermelho conhecemos, por instrumentos, o infravermelho) até o violeta (acima do violeta temos o ultravioleta, também por instrumentos). Racionalmente, aprendemos e aceitamos, já que essa ciência é difundida há tempos, que isso existe.
Da mesma forma, a audição que só escuta uma faixa limitada de frequências.Ou seja… embora nossos sentidos sejam limitados, acreditamos neles ou no que nos foi ensinado, não fazendo parte do nosso mundo real, de nossa vida, tudo aquilo que, embora saibamos que exista, não temos percepção.
Além das percepções físicas, temos uma outra sorte de percepções que não se relacionam com a matéria necessariamente: sentimos medo, culpa, amor, compaixão, fé e uma enorme lista de emoções que não tem relação com o mundo físico diretamente.
E todas essas emoções nos parecem muito reais também.
Mas o que é real?
Bom… parece que essa questão "do que é real”, vista somente do ponto de vista humano, muito rapidamente como foi, fica ilógica.
Convido a fazermos juntos uma reflexão, também muito limitada, ao Problema Filosófico-Religioso.
Já que mencionamos o Cristo no aspecto humano, vamos agora falar de Jesus no aspecto filosófico-religioso. Ele dizia que veio a Terra, no meio do povo escolhido - os judeus - para trazer o Reino dos Céus. Logo foi chamado de Rei dos Judeus, já que aquele povo na época não tinha território.
E sua mensagem de Amor, foi percebida pela humanidade como o rei que veio dar um território físico a um povo sem terras.
Ele dizia: "Vós sois Deuses e não o sabeis". "Sois Filhos de Deus Perfeitos". “Vós sóis imagem e semelhança de Deus".
Mas como isto poderia ser interpretado por um povo que tinha somente a ambição de se fixar num território?
Antes Dele, Buda, no oriente, afirmava que “Tudo é ilusão”. Falava Buda do “Mundo de Maia”, das ilusões. Ele não quis dizer que nada existe, que nada do mundo físico existe, que nada é real. Mas Ele falava em “projeções mentais” sobre o que achamos que realidade é.
E o que é a “realidade”? Realidade é aquilo que é! Tudo aquilo que existe! Mas, como podemos saber de tudo o que existe?
Para o Budismo tudo é mente, já que as percepções do homem são muito limitadas.
O que percebemos do mundo físico, na verdade, são as captações dos cinco sentidos transformados em impulsos elétricos que percorrem nosso sistema nervoso até o cérebro, que faz uma interpretação daquilo que chamamos matéria.
Tudo no mundo das emoções e no mundo subatômico tem outra realidade que não tem nada a ver com a matéria e nem com as leis que regem a matéria.
Poderíamos ficar entre esses pontos levantados e a eles somar infinitas outras questões, considerando as várias escolas filosóficas e/ou religiosas ou conhecimentos científicos da humanidade.
Mas, creio eu, é o suficiente para questionarmos a nós mesmos e começarmos a diferenciar os conceitos de “matéria física” e “realidade”.
Um último questionamento, penso, é válido nesse momento:
Ao observarmos qualquer objeto material ou físico, precisamos estar fora dele. Para enxergar um livro, é preciso que o livro esteja a uma determinada distância visível de nós, fora de nós, para podermos “reconhecer” o que “já conhecemos” mentalmente.
Consideramos todo o Universo conhecido como um mundo material e físico. Mas como podemos conceber isso se estamos “dentro” e não fora, do Universo? Somos parte do Universo Manifestado e Nele estamos inseridos.
Mas então, o que é real, agora sob a ótica do livro Um Curso em Milagres?
Primeiramente, ao ler o livro, precisamos abrir nossas mentes e corações ao novo. Esse o primeiro desafio. Entender nossas limitações e aceitar novos conceitos, que nosso sistema de crenças, à princípio, rejeitará.
Temos medo de mudanças e do novo, mas não achamos a paz naquilo que, para nós, é real.
É necessário entender também, que o UCEM é uma mensagem de Jesus a humanidade, sob a ótica de dois psicólogos, onde Jesus, reconhecendo que seu nome e sua história foram usados indevidamente e de forma incoerente pelos homens, através do livro, vem até nós restabelecer a verdade do "Reino dos Céus".
Vem, também através do livro, como um "pedido de perdão" por ter sido meio para tanta ignorância do mal uso de seu nome e ensinamentos pelos homens.
É necessário ler o livro com os “olhos do coração”, além do sentido físico ou emocional a que estamos habituados.
Segundo o livro, o que é real, está muito além da ilusão da matéria. Essa “ilusão” ou “sonho" é a crença na separação de Deus. Essa “separação” criou a ideia insana da “dualidade”. Somos um e Deus outro, pela separação.
Mas, como? Nós mesmos costumamos afirmar que Deus É Uno? Onipotente, Onisciente, Onipresente? E se somos criados por um Ser Perfeito, como poderíamos nós sermos imperfeitos?
Bem, de certo, estamos fazendo alguma confusão porque embora afirmemos tudo isso, acreditamos que Ele (Deus) está fora de nós.
Mas ao mesmo tempo damos a Ele características de UNO que nós não possuímos, portanto, estamos separados, pois vivemos num mundo dualístico de certo e errado, direita e esquerda, branco e preto, positivo e negativo...
Essa é a "ideia louca”, a “ilusão”, o “sonho” que o livro vem corrigir através de uma psicoterapia levada a efeito através dos 365 exercícios do livro.
Psicoterapia por quê? Psico de mente e terapia de processo. Portanto, um processo de reprogramação da mente à Realidade Una de Deus.
Esse é o propósito do Livro.
Embora pensemos nós que somos uma gota no oceano, talvez sejamos mesmo, em realidade, todo o oceano em uma gota.