quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A Corrupção no Brasil


Cálculos sobre o custo da corrupção no Brasil têm sido divulgados pela imprensa:


A Folha de São Paulo estima que o Brasil perde uma Bolívia em 7 anos (o equivalente a 40 bilhôes de reais), somente com o superfaturamento das obras.

Já a Fiesp estima que algo entre 50 e 85 bilhões de reais por ano sejam jogados pelo ralo da corrupção.

O Banco Mundial e a ONU, estimam que o custo mundial da corrupção seja de 3 trilhões de reais ano, mas também considerando somente as ilegalidades evidentes de super-faturamentos e desvios diretos de verbas de obras públicas.

Se assim for, a participação do Brasil na corrupção mundial seria de 1,67% ao ano (considerando para o Brasil uma média de 50 bilhões de reais/ano). Sinceramente eu não acho que a 7ª. economia do mundo e caminhando para ser a 5ª. em 2016, possa participar dessa roubalheira tão pouco. O Brasil é bem maior que só isso!

O problema é que se considera nesses estudos somente o impacto direto do superfaturamento das obras governamentais.

Mas corrupção vai muito além disso: nepotismo e cargos comissionados para apadrinhados do poder tem um custo social muito maior que apenas a enorme folha de pagamentos – o preço de ter apadrinhados em cargos de chefia, sem a menor preparação técnica ou formação na área gera burocracia, perda de tempo, encarecimento de processos, além de propiciar mais desvios em propinas para se ter um processo aprovado. Há diversos órgãos públicos que chegam a ter mais de 50% do efetivo em funcionários comissionados ou contratados, geralmente por OSCIP´s testas-de-ferro, que acabam por custar muito mais aos cofres públicos que os servidores de carreira. Por exemplo, faz sentido o orçamento do Senado Federal ser maior que o orçamento de Curitiba, com seus 1.800.000 cidadãos? E se fizer sentido, qual a produção do Senado Federal para a sociedade? E a de Curitiba?

As campanhas políticas no Brasil são feitas com dinheiro público em favorecimento de poucos, lembrando que 36% dos Senadores e 12% dos Deputados Federais, têm seus próprios meios de comunicação – rádios e TV´s. Tudo sem nossa autorização expressa e ainda somos “obrigados” a votar. E o custo das eleições gerais e obrigatórias é altíssimo.

Obras abandonadas antes do término e obras terminadas e esquecidas pelo poder público tem um custo social não calculado. É muito comum verem-se obras de pequeno porte – uma pracinha de esportes num bairro, por exemplo – que são feitas às pressas, sem o menor cuidado, muitas vezes mal-terminadas e desleixadas logo após as imprescindíveis fotos políticas de inauguração - ficarem imprestáveis antes do primeiro ano.

A própria Justiça contribui em muito para o custo da corrupção, uma vez que, com seus processos morosos e ineficientes, não consegue nem devolver aos cofres públicos os valores desviados e nem deter os criminosos políticos e colarinhos brancos do poder. Assim, os “fichas-sujas” continuam desviando dinheiro público, juntamente com seus apadrinhados e aliados comerciais, sob a proteção do corporativismo covarde do Congresso Federal, através de votos secretos ou até mesmo abertos, tamanha a desfaçatez.

A ausência de transparência dos governos é outra fonte inesgotável de corrupção. Com um sistema tributário complicado, com incidência de múltiplos impostos ao longo da cadeia produtiva, com regras frágeis, dificilmente algum brasileiro poderia calcular corretamente o valor da carga tributária exata em algum produto qualquer.

Se assim é, como podemos acompanhar com exatidão o quanto foi arrecadado pelos governos federal, estadual e municipal? Ficamos subordinados às informações divulgadas pelos mesmos, mas sem termos como controlar.

Tudo isso para não se falar das várias ilegalidades dos governos, além das muitas legalidades imorais que o país promove. Precatórios contra aposentados se transformam em descontos de impostos para multi-nacionais; Verbas Indenizatórias como forma indireta, não-tributável e que não acarreta em direitos aos funcionários públicos - como aposentadorias - são criadas indistintamente gerando corrupção; e, o Estado não pode ser protestado.

O “impostômetro” da Av. Paulista, em São Paulo, acaba de calcular que chegamos à casa de R$ 1 trilhão, 35 dias antes que o ano passado (oportuno dizer que é “estimativa” da FIESP a divulgar esse dado e não o Governo).

Considerando os parâmetros acima, o custo da corrupção no Brasil, nas esferas federal, estadual e municipal e nos 3 poderes, ultrapassa em muito 30% do volume arrecadado, ou seja, algo em torno de R$ 450 bilhões/ano.

Nesse ponto, gostaria então de fazer uma proposta ética aos governantes que novamente, com uma enorme demonstração de criatividade, estão pensando em retomar a CPMF, como forma de financiar a saúde do país: que tal estabelecermos um objetivo de economizar da roubalheira assombrosa apenas 10% ao ano?

Se assim for feito, teremos não somente os R$ 40 bilhões/ano necessários a saúde bem como sobrariam ainda R$ 5 bilhões para compras de panetones de Natal ou calcinhas a servidores de Assembléias Legislativas.

Bases numéricas podem ser contestadas ou recriadas nesse artigo. Mas não a realidade óbvia dos fatos aqui descritos.

Depois da Era Industrial, da Tecnologia, da Informação um dia virá que entraremos na Era dos Valores. E esse dia não está tão longe. Sinais como Inteligência Espiritual, Gestão Ética de Negócios e Vendas Consultivas, despontam aqui e acolá.

Que possa esse artigo servir de reflexão aos brasileiros que, como eu, amam esse País.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Curso de Escutatória - Rubem Alves


Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil… 
Diz Alberto Caeiro que “não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma”. Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas… Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia. 
Parafraseio o Alberto Caeiro: “Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma”. Daí a dificuldade: a gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer.  
Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor. 
Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos… 
Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64. Contou-me de sua experiência com os índios…. 
Reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio. (Os pianistas, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio, abrindo vazios de silêncio, expulsando todas as idéias estranhas).  
Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos, pensamentos que ele julgava essenciais. São-me estranhos.  
É preciso tempo para entender o que o outro falou. Se eu falar logo a seguir, são duas as possibilidades. 
Primeira: “Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado”. 
Segunda: “Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou”. 
Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada. O longo silêncio quer dizer: “Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou”. E assim vai a reunião. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia. 
Eu comecei a ouvir. Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras. A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa.  
No fundo do mar – quem faz mergulho sabe – a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar.  
Para mim, Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também. 
Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.

Rubem Alves