sábado, 28 de abril de 2012

A Rosa Azul

Nota: Considero-me privilegiado por ter convivido por anos com Roger Feraudy, meu pai. E através dele, com o Mestre Babajiananda (literalmente Paizinho da Felicidade Serena), que atuando em diferentes corpos de ilusão, dentre os quais como Pai Tomé, contou-me muitas historinhas de sabedoria, dentre as quais a abaixo. A história da Rosa Azul foi contada de diferentes formas, em diversas ocasiões e para diferentes pessoas, como pude testemunhar algumas vezes. Essa é a forma que me foi contada. E, com grande amor no coração, compartilho com Vocês. A Rosa Azul tem um significado esotérico de mistério e busca do impossível, já que ela não existe naturalmente, mas por mutações genéticas ou colorantes. Mas o Mestre sempre atribui a Rosa Azul, o símbolo do Amor Universal na Terra, dedicando seu infinito Amor à Senhora do Universo e a essa nossa humanidade carente. E essa história vem para nos ensinar que a busca não é fora, mas sim interior. Muitas vezes o que procuramos está conosco ou ao nosso lado. Só que não conseguimos enxergar. Que a Luz Azul do Mestre Babajiananda, em seu infinito amor, se faça presente no coração de todos os homens!


Havia um homem muito rico que possuía uma enorme propriedade no campo. Sua maior alegria e ocupação diária era tratar e cultivar grandes canteiros de rosas que situavam-se ao lado de sua própria casa. Este homem tinha orgulho de ser o possuidor da maior coleção de variedades de rosas do mundo, as quais eram objeto dos seus maiores cuidados. Seus jardins eram visitados por quem assim o desejasse, já que o rico senhor adorava demonstrar sua prodigiosa coleção e receber os merecidos elogios ao seu cultivo, o que o envaidecia.

Um belo dia, o floricultor olhando sua vasta propriedade e os visitantes, reparou num senhor idoso muito simples que calmamente passeava de canteiro a canteiro, observando atentamente a cada espécime.

Levado pela curiosidade, o floricultor foi ter com o humilde velhinho a fim de esmiuçar o que tanto interessava aquela criatura. Surpreendeu-se com a educação, tranquilidade e conhecimento do idoso e, até pela agradável compania, juntou-se a ele, passeando por incontáveis minutos dentre os canteiros de flores. Recebeu muitos elogios e frutíferos comentários do velhinho, o que satisfazia seu ego e tornava o floricultor cada vez mais surpreso com o visitante.

"É uma coleção magnífica!", disse o velhinho.
"Magnífica e completa", respondeu o floricultor. "Possuo todas as qualidades de rosas que existem", afiançou com orgulho.
"Eu diria que ainda falta um tipo de rosa que não vi em sua coleção", observou o visitante, examinando uma espécie rara, cor de café.
"Qual?", perguntou espantado o dono da propriedade.
"A rosa azul."
"Mas rosas azuis não existem!"
"Existem sim. Eu mesmo vi essa qualidade raríssima nos jardins de um poderoso sultão."
"Por favor, meu amigo. Diga-me com toda precisão onde posso encontrar tal maravilha."
"Não sei ao certo, foi há muitos anos atrás. Não me lembro exatamente onde. Mas posso afirmar que vi tal rosa."

Depois disso, tão misteriosamente como apareceu, o humilde velhinho sumiu. E o dono da propriedade chamou seus inúmeros empregados e deu as seguintes ordens:

"Vou viajar pelo mundo afora à procura da rosa azul. Quero que cuidem bem de minha propriedade e sobretudo de meus canteiros e rosas. Meu secretário tem numerário suficiente para pagar a todos durante pelo menos uns vinte anos. Não sei quando voltarei, mas podem estar certos de que se existe uma rosa azul eu voltarei com ela."

No dia seguinte, bem cedinho e afoitamente, o floricultor partiu em busca da rosa azul tão rara. Durante mais de vinte anos, viajou de país a outro procurando sem encontrar vestígio dessa qualidade de rosa. Desperdiçou na busca todo o seu dinheiro e energia sem o menor sucesso. Deprimido e envelhecido, tinha perdido o contato com seus funcionários e não tinha notícias de sua coleção. Desanimado e triste, voltou para sua terra usando de seus últimos recursos.

Chegando na porteira de sua propriedade, ainda inconformado e pensando na rosa azul, teve um choque ao não encontrar mais nenhum dos seus servidores. Os canteiros bem como as rosas todas haviam desaparecido. Apenas uma seca e tórrida terra batida e pedregosa o aguardava. Nada que pudesse lembrar o formidável jardim de outrora. Sua casa porém, ainda que desgastada pela ação do tempo, encontrava-se em pé.

Naquela noite, triste e solitário em sua propriedade, tentou repensar toda sua busca. Mas, tomado pela idade avançada, foi só recostar-se em sua cama e um sono profundo apoderou-se de suas últimas forças. 

Pela manhã, mais conformado, fez um café e caminhou vagarosamente até a parte externa da casa, como que se familiarizando com sua nova realidade. Sentou-se em uma pedra ao lado da casa, olhando consternado para o que antes havia sido um belo jardim. Sua contemplação e concentração eram tamanhas, que mal pôde notar que ao lado da pedra havia uma única roseira. 

Uma roseira com apenas uma rosa...

Uma linda rosa azul!

domingo, 15 de abril de 2012

Personificação de Deus



Deus não é uma pessoa, é antes uma energia... talvez, melhor dizendo, a energia criadora do amor.

Sempre cometemos o conveniente engano de considerá-lo uma pessoa: dizemos que Ele é muito bom (como pessoa), que é misericordioso, que sempre nos abençoa. Parece-me que essas são nossas humanas expectativas de Deus, são nossos desejos que impomos a Deus. Podemos impor nossas expectativas a uma pessoa e, caso ela não corresponda, fazer com que ela seja responsável por isso. Mas não poderíamos fazer o mesmo com a energia. 

A energia de Deus não funciona a partir de uma determinada consideração pessoal ou preferência por alguém. A rigor, a expressão energia de Deus já é errônea em tese, uma vez que seria mais apropriado dizer Deus é energia. 

Deus não pensa como se comportar ou o que fazer conosco. O que atua sobre nós são as Leis Divinas. Se nosso comportamento tiver discernimento em harmonia, compreensão e conformidade com essa energia e suas Leis, podemos chamar a isso de estado de graça - não por causa de Deus, mas por nossa causa mesmo.

Nesse sentido, a prece e a adoração a um deus humanizado, personificado, não têm nenhum significado. Na prece, suplicamos, insistimos, esperamos e demandamos. Mas não faz sentido ter alguma expectativa, porque se espera retorno desse deus- homem. Se Você desejar que a energia divina se torne uma benção, uma graça, terá que fazer algo por conta própria. Daí a prática espiritual ou a religiosidade terem significado e a prece não, a meditação ter significado e a mitificação e mistificação não.

Na prece Você está fazendo algo com um deus-homem. Na meditação Você está trabalhando com Você mesmo, com a sua própria divindade interior. No empenho espiritual, Você está fazendo algo com sua própria evolução, portanto, de acordo com a Lei de Evolução de todas as coisas. O esforço para o crescimento espiritual tem um significado de que Você está se transformando de tal maneira a não ficar em desacordo com a existência, com a criação, com o divino e com a religiosidade.

Esse conceito de Deus como pessoa nos causa muitos problemas. A mente deseja que ele seja uma pessoa, de tal forma que podemos transferir para ele todos os nossos problemas e mazelas, tornando-o responsável por tudo o que nos acontece.

Ao conseguir um emprego a pessoa agradece a Deus, mas ao perdê-lo, cobra de Deus. Se tiver uma pústula, a pessoa suspeita que Deus a causou, mas ao se curar, agradece a Deus, mesmo que tenha se medicado.

Precisamos refletir sobre como estamos usando esse deus-pessoa, pensar em como é egocêntrica essa atitude de esperar que esse deus se preocupe até mesmo com nossas pústulas. Se perdemos uma moeda e a reencontramos, dizemos: "Graças a Deus encontrei". Desejamos que Deus mantenha nossa conta até os últimos centavos.

A ideação desse deus pessoa satisfaz nossa mente, porque assim podemos ficar no centro do mundo. A vantagem é que a responsabilidade pode ser facilmente colocada sobre ele e consideramos ele um julgador.

Mas o real buscador toma a responsabilidade sobre si mesmo. Na verdade, ser um buscador ou religioso ou espiritualista significa não considerar ninguém, exceto a si mesmo, como o responsável por tudo o que nos diz respeito. Se tropeçar, cair e quebrar a perna, trata-se de minha própria distração e não posso culpar a força da gravidade ou processá-la.