quarta-feira, 6 de maio de 2020

A crise

Não vale a pena um mundo em que não exista nem saúde e nem dignidade para todos.
Nesta crise pandêmica, nosso maior inimigo não é um vírus sem vida...
Sempre há aqueles, historicamente, que em crises, tentam implementar o controle pelo medo, com interesses espúrios, sob o ponto de vista moral, religioso, econômico e político. Essa a real praga da humanidade que nem a religião ou a medicina podem remediar.
E tem, ainda, nossos próprios pensamentos, demônios interiores, crenças e limitações... nosso ódio, nossa ganância, a nossa ignorância, nosso egocentrismo...
Vivemos um grande desafio, que é o desafio da incerteza... tentamos nos cercar de todas as certezas, mas apesar disso a vida é um mar de incertezas...
Nós que sempre vivemos como se fôssemos ilhas egoicas isoladas, pela força da natureza, somos agora forçados a pensar coletivamente, socialmente, no bem-estar comum...
E isso muda tudo, já que só estamos acostumados a pensar em nós mesmos e nos próximos.
O vírus impôs, sem nenhuma lei escrita, a igualdade social da crise e nos faz perceber pessoas que antes eram transparentes, praticamente inexistentes em nossa percepção, como os entregadores de mercadorias e alimentos.
A capacidade de reação ao vírus numa sociedade profundamente desigual, depende, é claro, do grau de inserção social do indivíduo.
Mas, diferentemente, o vírus atinge a todos e é disseminado por todos, independentemente de raça, religião, poder, status, credos, posição política ou ideologia qualquer.
Temos que entender o pesado desafio, mas necessário, indispensável de termos uma economia mais solidária, uma sociedade mais integrada, de pensarmos mais em conjunto o futuro.
Não é mais possível sobreviver, quer seja na área da saúde, da segurança ou econômica, excluindo uma parte expressiva da sociedade e submeter outra expressiva parcela ao sofrimento dessas desigualdades...
Lembro da epidemia de cólera em Londres e Paris em 1854, quando, tal qual hoje, sob força militar, as pessoas foram obrigadas a se trancafiarem dentro de suas casas.
Naquela epidemia, apesar de todo o confinamento mandatório, a cólera continuava a atingir a todos indistintamente, porque era transmitida por quem não estava confinado: os ratos.
Mas foi a partir dessa grande crise pandêmica em Londres e Paris que houve um apelo a um projeto amplo e socialmente igualitário de rede de esgotos e tratamento das águas.
Precisamos repensar a sociedade incluindo a todos, indistintamente, já que se ainda não reparamos, somos todos interdependentes um dos outros, sem nenhum tipo de exclusão de qualquer tipo.

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