sexta-feira, 17 de abril de 2020

O Discípulo de Buda

Conta a história que Devatada, discípulo do Senhor Buda, considerando-se muito adiantado na senda espiritual, começou a fazer discípulos e a vagar de cidade em cidade, como seu Mestre, ensinando e divulgando a divina doutrina.
Chegando um dia num pequeno lugarejo, encontrou uma grande aglomeração na praça principal. Tratava-se de uma festa anual, onde o governador da Província colocava a prêmio um vaso de ouro amarrado no alto de um poste de madeira, para ser resgatado por levitação.
Há vários anos seguidos, o mesmo vaso era ali colocado, e ninguém ainda havia conseguido tal feito. Muitos ioguins e homens santos já haviam sentado em suas esteiras, ante o silêncio total da multidão, porém nenhum ainda havia sequer saído do chão. A cada novo fracasso, o povo ululava e vaiava os candidatos à levitação e mais gente acorria ao local da prova.
O último candidato já tinha desistido desse intento, quando Devatada, sorrindo em superioridade, disse a seus discípulos, atentos à prova:
- Mas isso é brincadeira de criança!
Seu tom de voz foi alto o bastante para ser ouvido por todos os presentes. E novo silêncio se fez na praça, e Devatada, sentando-se numa esteira emprestada, na posição de lótus, levitou com facilidade até o alto do poste, apanhou o pote e desceu calmamente, flutuando até o chão.
Os aplausos soaram por longo tempo e Devatada, sorrindo e sempre acompanhado por seus discípulos, saiu orgulhoso da vila, carregando nas mãos seu importante troféu.
Muito feliz com seu feito, diante de tanta gente, Devatada foi procurar seu Mestre, que se encontrava em profunda meditação. Passado algum tempo, Buda olhou para o adiantado discípulo, ajoelhado a seus pés.
- Veja Mestre, consegui com a maior facilidade.
O Senhor Buda sorriu com bondade:
- E o quê importa isso, meu filho, para sua evolução espiritual?
Devatada aborreceu-se com a pergunta inesperada do Mestre e seguiu seu caminho, sempre acompanhado por seus discípulos.
Devatada, que era adiantado, tão evoluído, que vivia sempre com a mente preocupada com problemas transcendentais, não reparou em um buraco a sua frente e, tropeçando, caiu, quebrando o lindo vaso de ouro.
É de se pensar sobre o por quê fazemos as coisas...
Muitas vezes, ainda que sejamos tenhamos conhecimento espiritual, acabamos por agir pelo ego, não é mesmo?
História adaptada dos ensinamentos do Mestre Babajiananda - ou Pai Tomé - encontradas no livro O Contador de Histórias, de Roger Feraudy - Editora do Conhecimento.

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