sexta-feira, 17 de abril de 2020

Intuição

Somos seres complexos: corpo, mente, emoção e espírito...
Quando sob pressão, temos a tendência para fixarmos no racional ou desligamo-nos.
Se não conseguimos olhar para nosso interior, para nós mesmos, não estamos usando nossas melhores capacidades e não permitimos nossas melhores emoções e intuição fluírem.
Creio que, no mais alto nível, todas as nossas decisões são intuitivas historicamente. Oras, se não fossem, poderíamos processar todas as questões e decisões importantes em computadores e teríamos todas as respostas para tudo. Mas, não temos.
Nos últimos 30 ou 35 anos temos presenciado a dominância do pensamento racional. Os centros acadêmicos, a mídia, a cultura, as corporações, governos e quase todas as instituições cultuam a racionalidade, desprezando a capacidade de evoluir pela intuição.
Mas, agora, talvez pela circunstância do vírus, pela primeira vez, começamos a perceber que os problemas estão crescendo, atingindo um raio de ação mundial. Precisamos recuar, ter uma nova abordagem a velhos problemas...
Um dos desafios é que, recorrendo ao lado racional, focamos tudo no curto prazo, em ferramentas disponíveis, eliminando ou excluindo a criatividade das pessoas e empresas.
Gastamos milhões, bilhões de dólares pensando que estamos trabalhando mais, com mais resultados. Mas, isto simplesmente não é verdade! Estamos perdidos nos números, na lógica. A cada questão respondida surgem mais e mais questões não resolvidas.
Pessoas pensam que trabalhar muito, muitas horas é uma virtude. Qual a virtude? Empresas diferenciam eloquentemente a eficiência da eficácia, mas ainda não sabem qual é o propósito corporativo. E assim, as pessoas tem esgotamento e estresse facilmente.
É preciso aprender melhor como tomar decisões baseadas na intuição. Mas será que a intuição pode ser considerada confiável? Bem... primeiro é preciso definir confiabilidade. Então... quão precisa pode ser minha intuição para tomar decisões e julgar circunstâncias? Adianto... neste aspecto não é muito confiável.
Estamos acostumados a julgar pela aparência, por estereótipos. Ver é para crer. E o fato de vermos e julgarmos afeta a intuição. Assim, nossos preconceitos podem ser perigosos, quando tomamos decisões e julgamos os outros. Mas, será que a intuição não é superior a isto?
Iain McGilchrist, psiquiatra e escritor, diz que o nosso mundo mental é um amontoado de fragmentos de difícil percepção de sua interligação. O significado das coisas perdeu-se, de tal forma que a sabedoria foi substituída pelo conhecimento, o conhecimento pela quantidade de informação, pedaços de dados, blocos de dados.
As pessoas em geral, no mundo de hoje, não estão em contato com suas intuições. Deixam a consciência desviar-se do mundo interior para o mundo que construímos... o mundo das formas, dos itinerários de A a B, o mundo das estratégias, dos objetivos, prazos, metas e missões... e assim se desconectam de si mesmos, de suas sensações, percepções, feelings, insights e outras percepções da vida.
A neurociência ensina que 98% do cérebro não utiliza linguagem ou lógica, crença ou estratégia. Ele cria estas coisas, mas não utiliza. Os outros 2% recebe o que os 98% cria e processa a informação e age: vai trabalhar, volta para casa, vai ao cinema etc.
Estes 98% é o que os neurocientistas chamam de mente relacional, que relaciona, ordena os pedaços de informações. Os outros 2% é a chamada mente linear.
Mas como podemos ouvir nossa intuição?
Pequenos exercícios de percepção, que podem ser feitos em qualquer lugar, sem tomar tempo algum, da forma correta de ver o mundo – precisamos tomar consciência do mundo à nossa volta. Nosso cérebro está em constante mutação, dependendo do que pensamos, sentimos e experimentamos.
Somos bombardeados de informação o tempo todo no mundo de hoje. E isso afeta o modo que conhecemos o mundo. Ficamos distraídos, a maior parte do tempo, com a forma que adquirimos o conhecimento e não o sentimos ou experimentamos mais. Apenas consumimos que é aquilo.
Como pode a intuição ajudar-nos a sentir o mundo e nosso lugar nele?
A intuição é a percepção das coisas sutis, que estão fora do foco central da atenção. Coisas que percebemos subliminarmente e inconscientemente. Se permanecemos muito tempo em nossa mente focada conscientemente, não teremos intuição, porque achamos que o foco central deve ser muito importante. Aprendemos assim. Mas, poucos dos nossos processos mentais são conscientes. A maior parte deles, entre 95 e 99%, são inconscientes.
Há uma interconectividade entre nós, mas a forma que percebemos o mundo, ao invés de nos aproximar, está tornando-nos mais desconectados de nós mesmos, dos outros e do mundo a nossa volta.
Chegamos ao ponto de chamar distração de entretenimento.
Imaginemos que somos feitos por dois movimentos: um inspira, outro expira... um reflete, outro reage... - um sente, outro calcula... um atrai, outro repulsa... um é o espírito, o outro é o ego...
Quando aprendermos a equilibrar estes dois movimentos, sentindo conscientemente o mundo de dentro para fora e não como o fazemos – de fora para dentro – então nossa vida vai mudar.
Existe um elo perdido entre o mundo interior e o exterior, limitando nossa consciência e, portanto, nossas opções de vida.
Na língua islandesa antiga a palavra Inn Saei é este elo perdido. Inn Saei tem múltiplos significados: mar interior, visão interior, ver de dentro para fora. O mar interior talvez signifique a natureza do mundo em que vivemos, que está em constante movimento, além do conhecimento e das palavras. É um mundo de observação, sentimentos e imaginação.
Ter visão interior é conhecer-se a si mesmo, a ponto de ser capaz de se colocar no lugar de outras pessoas e externar o melhor de si mesmo.
Propósito é a fundamentação da vida humana neste mundo. O propósito retira o sentido de aleatoriedade da vida. E assim o fazendo, o propósito dá um significado mais profundo e reconhecimento ao ser humano como tal.
Serve para manter a intuição viva e nos reconectar com nosso Eu Superior.
Se eu tenho propósito estando conectado a mim mesmo e ao mundo, consequentemente sei que não foi outra pessoa, não foram meus pais, minha escola, nenhuma instituição, religião ou governo que me deu este propósito.
É o mundo interior e exterior que vejo que me deu este propósito.
O que estamos procurando encontra resposta em nosso eu mais profundo. E, se nos afastarmos momentaneamente das distrações do mundo exterior, poderemos alcançar nossas verdades do nosso eu interior, onde há respostas sussurradas para tudo, com outras opções e alternativas.
Não é fácil... é tão difícil como matemática, física quântica ou economia.
Por fim, intuição é como uma bússola que nos aponta a direção precisa neste mundo em constante mudança.
Essa direção é o seu propósito...

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