sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

O Reino dos Deuses - Parte 2

continuação da Parte 1...

A estupenda sintonia da natureza continuava penetrando todo o meu ser, gritando bem alto sons harmônicos que significavam Equilíbrio, Harmonia, Trabalho, Ordem, Equidade, Justiça, Evolução, Perfeição e... Amor! Era notável como as multiplicidades das infinitas formas agiam em uma síntese perfeita de unicidade, reduzindo-se a um fator constante: A Grande Lei Divina!

Perante tamanha perfeição, senti minha alma cansada, despida de tudo, numa nudez de forma e de humildade. Invadiu-me uma paz de infinita grandeza, pressenti a Unidade no Amor e orei ao Senhor do Mundo para me amparar na Sua Lei e sustentar-me na Sua Harmonia.

Então senti que todo o cenário mudava... havia uma presença de luz. Seria uma homem? Talvez só na aparência merecia esse nome, tamanha sua altivez. Seria um Santo? Um Sábio? Um Adepto? Ou um Deus? Sua voz era suave, doce e vibrante e disse:

- Bem-vindo sejas, filho meu!

Não podia responder, preso que estava perante o fascínio que aquele Ser emanava. Sabia, sem saber como, que ele lia o mais íntimo de minha alma, meus pensamentos e emoções. Conheceria ele todos os capítulos de minha existência pífia? Estava paralisado e sem reação, totalmente desnudado, ofuscado pela sua luz e nada conseguia dizer. Foi lendo meu pensamento que nasceu um diálogo mudo, que penetrou minha consciência, atingindo direto o meu coração, limpando-me todo, num banho de luz de incríveis conhecimentos.

- Que país é esse, Mestre? Achava que era um Templo, mas agora reparo ser uma nação ou um estado. Onde me encontro?

- País, Estado? Não, filho meu, aqui não temos fronteiras. Mas não te enganaste - é um Grande Templo, onde vivem todos os irmãos desse globo. Um santuário sagrado onde o limite é o infinito. Começa no homem e termina no homem. Essa a fronteira.

- Mas, Mestre, e quem governa esse país único e universal?

- Aqui o homem governa o próprio homem, filho meu. Ninguém, assim, precisa governar a ninguém, pois cada um sabe perfeitmente qual seu papel dentro do quadro evolutivo. Cada um faz precisamente o que é preciso ser feito, pensando sempre na utilidade que possa ter aos seus semelhantes. Aqui ninguém tem mais, porque o trabalho de um é para o outro e assim sucessivamente. Dessa forma, tudo é de todos. Nossa forma de governo é a Grande Lei. É Deus manifestado em tudo. É governo que não governa, porque nada impõe, apenas ama, porque não é efeito, mas causa. Aqui é onde a única Lei Absoluta existe... que é o Amor! Essa é a única máxima, a única frase, da única folha, do único livro que possuimos. 

- Maravilhado... Como expressar tamanha sabedoria? Então qual a religião que conglomera a todos?


- Não, filho meu... Aqui cada ser é a própria religiosidade. Adoramos a Unicidade Divina, ao Deus Uno, não sob a forma de um culto exterior. Nós O cultuamos sentindo-O, nós O amamos vivendo Nele, não procurando-O. Aqui cada ser é um Templo Divino que abriga ao próprio Deus e cada ação uma prece constante. Aqui quem dá o batismo é o sagrado ato da maternidade, no milagre da luz. A mãe batiza no sacramento maravilhoso de dar à luz, porque sendo a luz a própria divindade, ela com Ele se identifica. A sagração do matrimônio quem dá é o Amor. Não o amor da carne, efêmero e transitório que grita sempre "eu". Mas o amor das almas gêmeas, que não é mais "eu" e "tu", porque somente nós. É um amor transcendental que une os espíritos antes da carne. A extrema-unção quem dá é a terra. É a terra que absorve os corpos e liberta a vida imortal, a consciência imortal do ser, membro efetivo do Grande Alento, colaborador da Grande Obra, peça imprescindível do grande mosaico da evolução do Universo.


E continuou...


- Nossa religião é a Verdade e a Verdade nossa ciência. O homem liberto redime seu semelhante, torna a sua ação religiosidade e sua relação com o meio, ciência exata. A ciência analisa e estuda os fenômenos em sua consequência. A religião ama os fenômenos em sua causa. E a constante de ambas é a Verdade, onde veremos que tudo se restringe a dois polos aparentes de uma e mesma coisa - Deus! Tudo converge para a causa das causas e tudo conduz inevitavelmente ao Ser Supremo. "Conhece-te a ti mesmo e o conhecimento te libertará", não é assim, filho meu? Somente pela união, pela unificação do problema religioso-científico-humano, o homem poderá se dizer livre.


E, então, aquele maravilhoso ser, ofuscante como o Sol, levantou seus braços e um panorama esplêndido surgiu, apontado por suas divinas mãos.


E eu vi campos cultivados por homens e mulheres que trabalhavam cantando e suas mãos fortes perdiam-se na terra como afagos ternos que se dá acariciando aos cabelos da amada. Vi pessoas a distribuirem o pão fresquinho a mãos cheias aos trabalhadores do campo. Vi crianças lindas correndo por entre as árvores, com suas faces coradas na risada fácil de sua própria felicidade. Vi grandes teares, enormes máquinas e grandes oficinas. Vi professores a ensinar as crianças lições magníficas no livro aberto da natureza. O Mestre explanava e os discípulos bebiam suas palavras, que falavam da vida e da felicidade.


Não vi hospitais, nem vi doentes... tudo era perfeito, harmonioso e sadio.


- Contempla! Estuda! Aprende e compartilha!


Uma felicidade profunda me invadiu, sentindo que alcançava minha harmonia interior, quando percebi uma forte atração para o átrio deste enorme Templo... e comecei a sentir novamente o tempo fluir... e um peso cada vez maior à medida que me aproximava de meu corpo imóvel, até que me identifiquei novamente como ser no espaço. Voltei a minha primitiva e pesada dimensão. Frustrado e vencido pela matéria e suas leis, já atravessava os imensos pórticos do Templo, quando, ainda uma vez mais ouvi a voz do Mestre em minha consciência, porém sem mais vê-lo:


- Trabalha! Trabalha que o serviço é Amor e fora do Amor não existe salvação.


- Tenha

  Como Templo, o Universo;
  Como Prece, o Trabalho;
  Como Fé, o Amor; e,
  Como Religião, a Caridade...

- Paz a todos os Seres do Universo!


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