domingo, 21 de abril de 2019

Grokkar

Nos meus idos 14 anos, tive a oportunidade de ler, através de minha mãe, que coordenava uma biblioteca comunitária, um livro chamado "Um estranho numa terra estranha", de Robert Heinlein, uma ficção científica da década de 60, cuja personagem principal era Valentine Michael Smith. E hoje percebo como as coisas ganham novas visões ao longo do tempo... me explico...

Michael Smith é filho de dois astronautas da malfadada primeira expedição da humanidade ao planeta Marte. Nascido naquele planeta e deixado órfão após a morte de toda a tripulação, Smith foi criado em meio à cultura dos habitantes nativos do planeta — seres assexuados cujas mentes vivem num mundo alternativo, dotados de grande poder e de grande conhecimento e sabedoria.

Mais que ficção, ao meu ver, esse livro trás muitos questionamentos à sociedade, falando sobre política, economia, poder, sexo, ecologia, religião... é como se um observador olhasse nossos comportamentos com uma visão pura, sem os signifcados que damos às coisas e situações. Enfim, eu o recomendaria...

Michael Smith falava da palavra marciana "grokkar", talvez para tentar explicar sua mente evoluída a quem não podia entender, como se uma criança de hoje estivesse tentando explicar a um humano de 2.000 anos atrás, o funcionamento de um video game ou de um aparelho celular.

"Grokkar" é quando a gente interage tanto com alguma coisa, tentando compreendê-la e senti-la, que passa a ser aquela coisa, em sua totalidade e realidade no eterno presente.

Assim, por exemplo, em uma passagem onde Michael está andando na rua e é abordado por um assaltante armado, ele tenta "grokkar" a arma, mas não consegue "sentir", "perceber", "ser" algo de bom com a arma... e se nada há de bom na arma, ela não pode ser real... e se não pode ser real, ela não tem significado real, ela não existe... e é assim que a arma, surpreendentemente, desaparece aos olhos de todos...

Numa outra passagem, Jubal - um orientador de Michael - tenta lhe explicar o que é religião e Michael Smith entende o conceito de Deus somente como "alguém que grokka", o que inclui cada pessoa, planta e animal vivente. Na verdade, o universo manifestado todo. Isto o leva a expressar o conceito marciano da singeleza da vida na frase "Tu és Deus", uma de suas preferidas.

Na língua marciana, "grokkar" significa algo mais profundo que "entender completamente", "amar", "unir-se a", "fazer comunhão com", é mais como "tornar-se aquilo a que se observa"... na sua simplicidade e pureza, Michael reconhece as "verdades", não a realidade aparente, a partir de sua própria divindade.

Hoje, primaveras passadas, entendo que "grokkar" talvez não seja uma palavra marciana fictícia, mas o "SER UM", com tudo e com todos, numa sinergia amorosa onde somente a realidade imortal é real e, a partir desse princípio, todas as formas de manifestação.

Somos "aquele que vê", que tem consciência, que tem paz, que é livre e sabe amar. Só precisamos tomar consciência desse olhar que "grokka" para sermos um Michael.

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